
A sífilis é uma doença silenciosa, mas com consequências profundas. Apesar de ter cura e tratamento disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda afeta milhares de pessoas no Brasil todos os anos, especialmente mulheres grávidas e seus bebês. Quando transmitida da mãe para o filho durante a gestação, parto ou amamentação, a infecção é chamada de sífilis congênita e pode causar aborto, parto prematuro, malformações e até morte neonatal.
Foi com o propósito de fortalecer o cuidado e ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequado que o município de Curvelo (MG) se tornou referência na construção de um novo modelo de enfrentamento à doença, em parceria com a Fundação Abrinq, por meio do Programa 1000 Dias.
O novo protocolo: do diagnóstico ao tratamento
A partir das discussões de um grupo de trabalho com profissionais do município, foi desenvolvido um protocolo específico para o manejo da sífilis em gestantes. O documento define fluxos de atendimento, responsabilidades e condutas clínicas, desde a testagem rápida até o início imediato do tratamento e o acompanhamento da mulher.
Antes da iniciativa, o processo era mais fragmentado: as gestantes diagnosticadas precisavam ser encaminhadas de carro até o pronto atendimento para receber a penicilina, o que gerava constrangimento, atrasos e risco de evasão do tratamento.
“Era um processo pouco prático e desconfortável para as gestantes. Muitas vezes, a demora no encaminhamento comprometia o início do tratamento, o que aumenta o risco de transmissão para o bebê”, conta Sofia Barbosa, enfermeira da rede municipal.
O novo protocolo estabelece que a aplicação da penicilina seja realizada diretamente nas unidades básicas de saúde, conforme a recomendação do Ministério da Saúde. Para viabilizar isso, o município está estruturando kits de urgência para todas as equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), contendo os insumos necessários para o manejo de possíveis reações alérgicas e para garantir a segurança da aplicação.
Além da estrutura física, o município também está promovendo capacitações específicas para os profissionais de saúde, com foco em atualização técnica, fluxos de atendimento e manejo de situações de urgência.
“Estamos finalizando a atualização do protocolo de pré-natal e a ideia é realizar uma capacitação conjunta, unindo a parte técnica e o atendimento humanizado. Há muitos profissionais novos na rede e esse processo ajuda a padronizar o cuidado e fortalecer a confiança das equipes”, explica a enfermeira.
A expectativa é que até o fim do ano todas as unidades estejam aptas a realizar o tratamento localmente, garantindo início imediato após a confirmação do diagnóstico.
Avanços e mobilização
Outra frente da parceria tem sido o fortalecimento dos grupos de gestantes, que hoje funcionam como espaços de informação e acolhimento. Nas áreas rurais, onde o deslocamento é mais difícil, as equipes adaptaram a dinâmica para tratar de mais temas em cada encontro, incentivando a participação das mulheres.
“Antes, esses grupos quase não existiam. Agora, conseguimos alcançar muitas gestantes em algumas localidades rurais. Mesmo com desafios, é notável o quanto elas estão mais informadas e envolvidas com o próprio cuidado”, comenta Sofia.
O Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita é celebrado em 18 de outubro e integra o calendário de ações em saúde pública voltadas à prevenção, diagnóstico e tratamento da doença em todo o país.